sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Identidade e a Cidade

“Dizem” que a cidade de Feira de Santana não tem identidade. O que se caracteriza como identidade? As questões políticas? Os movimentos culturais? Ou o comportamento de cada cidadão? Será que somos nós que não temos identidade, ou a perdemos?
Outro dia estava indo ao oftalmologista e observei cada pessoa que por mim passava: homens, mulheres, crianças... Em sua maioria “seres humanos”, pelo menos aparentemente. Tinha a impressão de que podia ouvi-los, sentir seus medos e desejos. Seus olhos falavam mais que as buzinas dos carros que passavam pela avenida Senhor dos Passos. Não eram simples palavras, eram diferentes histórias que estavam sendo construídas a cada minuto, um após o outro.
Como não ter identidade numa cidade composta por mais de 500 mil habitantes? Entre às 5 horas da manhã e às 18 horas da noite, a Princesa do Sertão se transforma em um tabuleiro do varejo e concentra boa parte de sua renda nos mais variados tipos de comércio, levando o povo a dizer: “Tudo se encontra na feira da Feira”. É nesta cidade ditada sem identidade que, a partir das 19 horas, o povo para pra saborear o suor de mais um dia de trabalho, dividindo em mesas de restaurantes e bares o sabor das conquistas e derrotas.
Se Deus fosse menos esperto, criaria o homem com um percentual mais baixo de inteligência, assim poderíamos, em vez de um nome, termos apenas o número de registro e apresentá-lo sempre que fosse preciso, como “A identidade padronizada, engessada da cidade onde moro ou onde nasci”. Acredito que a identidade se adquire com a construção do caráter e não se confecciona no SAC (Serviço de Auto-Comparação). A construção da identidade humana é diária, somos seres mutáveis. Para Stuart Hall, “...em vez de falar em identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar em identificação, e vê-la como um processo em andamento”.
O conceito de identidade vem sendo questionado por diferentes áreas do conhecimento, desconstruindo a idéia de uma identidade única, integral e originária, como defende Moita Lopes, “As identidades sociais de classe, gênero, raça, idade, profissão, etc, podem ser expressas em uma mesma prática de vida ou em diferentes práticas. Isto ocorre na medida em que cada indivíduo carrega uma multiplicidade de identidades, como por exemplo, uma pessoa não é apenas idosa, mas também mulher ou homem, pobre ou rica, branca ou negra, com escolaridade ou sem escolaridade, etc. Ou seja, a pessoa que fala reflete diferentes aspectos de sua subjetividade dependendo de com quem fala e de onde fala”.
Feira de Santana é uma cidade com diferentes características culturais, desde a verdade sobre os habitantes, filhos da cidade e o grande número de habitantes oriundos de outras tantas cidades que trazem seus costumes e valores, contribuindo para a diversidade cultural deste ambiente. E por ser uma cidade do interior que, em diferentes momentos, se projeta como uma metrópole, muitas das pessoas que moram em Feira buscam as possibilidades de desenvolvimento e crescimento, sem perder a qualidade de vida que têm numa cidade interiorana.
Não posso deixar de defender a identidade da minha cidade, permitindo que “críticos”, que nem aqui vivem, coloquem em cheque os valores e diferencias desta princesa. Temos a nossa identidade, da diversidade, da pluralidade, da oportunidade de construir sonhos e realizá-los. Como dizia Cecília Meireles: “É preciso aprender a olhar para poder vê-las assim”.



Thiago Oliveira
Jornalista formado pela UNEF

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