Msc. SANTOS, Lidiane Rocha dos
Com ricos detalhes de experiências da profissão de jornalista, Ricardo Kotscho descreve, de modo claro e envolvente, em A Prática da Reportagem os inúmeros desafios que um repórter passa para conseguir as informações, escrevê-las e publicá-las.
Publicado pela editora Ática em 1995, o livro do jornalista Ricardo Kotscho adverte que “lugar de repórter é na rua. É lá que as coisas acontecem, a vida se transforma em notícia”. Ao ser escalado para cobrir o julgamento pela Justiça Militar do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Luís Inácio Lula da Silva, e outros líderes dos trabalhadores, Kotscho relatou que o comando do II Exército forneceu credenciais para todos os jornalistas, menos para correspondentes estrangeiros. Apesar de ser brasileiro, Kotscho não a recebeu. Sem opção para cobrir aquele fato, o repórter decidiu ir até a casa do Lula ver como estava a movimentação por lá. Para sua surpresa, os réus encontravam-se naquele local. “Tem disso: às vezes, você é impedido de entrar num lugar e acaba encontrando, onde não esperava, um assunto ainda melhor” – comenta Kotscho.
Um enfoque dado repetitivamente pelo autor ao descrever suas aventuras como jornalista é que, “repórter e fotógrafo têm que trabalhar sempre juntos”. Uma das reportagens mais marcantes é contada nas páginas 19, 20 e chama atenção não só pelo desfecho, mas também pela maneira como foi elaborada, veja: “Muitos segurados vieram de longe, como Marcolina Maria de Jesus, 68 anos, que saiu de Cidade Jardim às 6h da manhã. Sem conseguir se levantar do banco do calçadão, gemendo de dores, Marcolina implorava a quem passasse à sua frente: ´preciso falar com um médico. Estou até agora sem comer´. Às quatro da tarde, seu estado se agravou.(...)”. Sem atendimento aos segurados até aquele momento, Kotscho decidiu investigar: “Enquanto o agente de segurança procurava esconder o que se passava lá dentro, o fotógrafo Gil Passarelli, no prédio em frente, armado com uma potente teleobjetiva, flagrava a festinha de Natal dos médicos com as enfermeiras. (...) Se o Gil não tivesse feito as fotos, seria a minha palavra contra a deles”.
Merece destaque ainda os ensinamentos descritos no capítulo 5 chamado Perfil, em particular a história narrada, nas páginas 45 e 46, de um “velho palhaço”. Kotscho enaltece, de modo descritivo, a singela figura de um personagem aparentemente sem importância (apenas por ser anônimo), que remete ao leitor muita emoção. Tal indicação de pauta lhe rendeu uma “das mais belas histórias humanas”, a qual foi capa do segundo caderno da Folha do dia 13 de março de 1982.
Experiências como estas relatadas de maneira descritiva e clara, fazem com que o leitor, mesmo não sendo da área de comunicação, possa ter noção de como é o árduo, mas fascinante trabalho de um jornalista. O livro permite também conscientizar o profissional de que o repórter não sobrevive sem o fotógrafo e vice-versa, pois o trabalho deles se entrelaça quando o produto final, ou seja, a notícia, chega até o leitor.Por estas e outras é que A Prática da Reportagem merece destaque dentre os livros da área de comunicação. Vale lembrar que em seu prefácio, há um depoimento do também jornalista Clovis Rossi que diz: “Da teoria, passa-se instantaneamente à prática, na forma da reprodução de textos nascidos exatamente da maneira como Ricardo Kotscho encarou cada um desses desafios”. Portanto, vale a pena ler, se informar e aprender!
Lidiane Rocha dos Santos é Mestre em Comunicação, Mídia e Cultura graduada e pós-graduada pela Universidade de Marília, em Marília-SP.
Um comentário:
Parabéns Lidiane pela excelente análise que funciona também como uma dica, não só para os acadêmicos de jornalismo, mas também para os veteranos, pois ser jornalista é estar sempre na batalha pró ou contra algo. Bjão, garota e sucesso!
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